E agora, algo completamente diferente!
Então esta semana #9 do isolamento trouxe uma novidade imparável, nunca vista e totalmente imprevisível que passarei a apresentar-vos: em plena pandemia covidiana, fui parar ao hospital!
Acordei a sentir-me com falta de ar e uma dor horrível nos costados. Já tinha acontecido antes, mas desta vez fiquei em pânico: teria covido? Não teria covido? Liguei para a Saúde 24. Atenderam logo. Depois de mil perguntas (será que você está grávida?) encaminharam-me para o Garcia da Orta. Fui sozinha: ninguém me poderia acompanhar nesta viagem ao âmago do funcionamento hospitalar da cidade de Almada. Chegada à triagem, quase morta, fizeram-me de novo mil perguntas (você sofre de ansiedade?). E depois levara-me para a secção dos covidos e fecharam-me numa sala.
Uma sala que não abria por dentro.
Esperei algumas horas, sentada numa cadeira castanha que não tinha nada de confortável. Olhei para o meu telefone. Li o meu livro: "O Elixir da Imortalidade", um livro sobre a história da família Spinoza e sobre a Cabala Judaica. Adormeci um pouco.
Depois vieram buscar-me para fazer um raioxis. Segui em procissão com mais uns velhotes, ainda quase a morrer de falta de ar. Vi os internados das urgências, todos com ar de estarem mais para lá do que para cá, o que não era de admirar. Raixizaram-me com todas as componentes de segurança e higienização. E devolveram-me à sala isolada, onde esperei mais algumas horas.
Foi então que ouvi alguém a gritar.
"Ó FÁXABORI!"
E continuou a gritar até ter morrido, porque de repente se calou.
Finalmente apareceu alguém: vinham tirar-me sangue e fazer o teste do corona. E, devo dizer-vos, caros pós calypsicos, não recomendo o teste do corona a ninguém. O procedimento é simples: colocam-vos um cotonete gigante no nariz e espetam-no cá atrás, no cérebro. Nos dois narizes. Depois na garganta. Dói horrores e não compreendo como na televisão parecem todos felizes a fazer o teste.
De seguida levaram-me para uma salinha isolada, só com uma cortina e uma cadeira, em tudo semelhante às do cacilheiro. E aí aguardei mais umas horas, mas desta vez com uma médica (toda protegida em algo semelhante a um preservativo de astronauta) a dar-me medicação para eu poder respirar e viver.
Conheci vagamente os outros doentes... O senhor Isidro, que esteve o tempo inteiro a tentar fugir. A dona Francisca, que tinha sido abandonada ali pela filha. Histórias um pouco tristes, mas o staff médico e enfermeiro todo bem-disposto e a falar com todos cheios de alegria.
Mandaram-me embora à meia noite e meia. Ainda não sei se tenho corona: se tiver o teste positivo ligam-me até Sábado. Se não, não me ligam. Enfim, por causa disto não posso ir trabalhar, porque tenho de estar em isolamento pelo menos até saber o resultado do teste (ou não o saber e, consequentemente, este ser negativo)
E foi assim a Semana #9 da Secção Almada. Props para o staff do Garcia da Orta, que apesar de me ter feito esperar tempos infinitos até à loucura do isolamento, me tratou de forma excelente e descobriu logo que afinal não tenho cancro: tenho asma.
Te amo... No! Te asmo!
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