30 abril 2020

Secção Alameda/Areeiro - Semana #7


25 DE ABRIL SEMPRE!
Toda a polémica acerca da celebração do 25 de Abril 2020 na Assembleia da República pareceu uma manobra de mete-nojos fascizóides, que acham o 25 de Abril um feriado comunista e meteram-no no mesmo saco que a Páscoa.
1. Não se pode comparar alhos com bugalhos. Vivemos num estado laico, a Páscoa é um feriado religioso, e as restrições impostas foram apenas um reforço às restrições gerais, porque a malta não sabe ficar quieta em casa e quis ser solidária com a santa terrinha e os avozinhos, levando para lá o Covid-19! Aliás restrições que serão aplicadas ao fim de semana prolongado do 1º de Maio.
2. Trata-se da celebração da data em que o nosso país se tornou numa democracia, que permite a esses trolls insurgirem-se contra esta comemoração sem irem presos, onde foi conquistada a liberdade que nos deu muitos dos privilégios que temos como dado adquirido actualmente. Sobretudo nestes tempo pó calypsicos é fundamental celebrar este acontecimento.
3. Não se tratou de uma festa, com beberete, croquetes e pastéis de bacalhau, para "os políticos" prevaricarem com o nosso dinheirinho suado dos impostos. Tratou-se de assinalar uma data, com mais ou menos (acabou por ser até bem menos) o quorum que tem estado diariamente na Assembleia, a ditar as normas para assegurar a nossa segurança e conforto mínimos, como o rendimento das pessoas, um tecto sobre as cabeças e salvar o máximo de vidas possível.
4. Nunca foi planeada uma celebração para o dia inteiro, apenas uma, duas horas, num espaço com capacidade para cerca de 700 pessoas, onde têm reunido cerca de 140, estavam previstas 160, acabaram por estar presentes cerca de 70, metade das que têem ocupado o hemiciclo diaramente.
5. Os Capitães de Abril são um grupo de risco sim senhor, mas ninguém os obriga a ir a lado nenhum, foram convidados. Foi para isso que serviu o 25 de Abril.
Toda a comunicação acerca desta celebração foi muitíssimo mal gerida pelo governo, que não pensou duas vezes no mais previsível, os fachos pegarem nisso e empolarem-no pelo feicebuque afora. Péssima estratégia e planeamento em avanço.
Dado o seu passado e muitas das atitudes popularuchas que toma com frequência, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa deu provavelmente o seu melhor discurso de sempre que, espero, tenha calado todas as más línguas que só querem chamar a atenção. São trolls. Ponto. Também quero elogiar Rui Rio, que achei sempre um bronco, por todo o seu comportamento durante a pandemia e também as suas palavras na Assembleia no 25 de Abril. É assim que a oposição se deve comportar sempre: questionar o governo, sim, mas fazê-lo de forma construtiva e não atacar só porque sim.

Bom, fora o refilanço acima, a minha semana foi tranquila. Mas vá-se lá saber porquê, achei as comemorações do 25 de Abril mais emocionantes este ano. Há muito que não desço a Avenida ou faço pouco mais que vestir-me e a uma das moças de vermelho (com um cravo na cabeça, naturalmente), pois em geral estou a trabalhar e perdi um bocado a paciência, mas gostei das várias iniciativas que a internet me proporcionou e a RTP está mais do que de parabéns por ter sido verdadeiro serviço público, exibindo vários filmes e documentários sobre o 25 de Abril. Entreti-me imenso a analisar o guarda roupa das pessoas em 1974, para além do vermelho obrigatório, havia muito amarelo e mais cor do que se vê nas imagens do tempo da ditadura. Interessante!
Tenho estado a ver Years and Years, do meu herói Russel T Davies, mas mais espaçado. É brutal! Quero ver com atenção e o meu bricolage da semana não me permite essa atenção. Também revi o meu filme preferido de Peter Greenaway, Drowning by Numbers, um DVD que comprei super baratinho na ultima vez que estive no Cinema Ideal (acho que há cerca de um ano). Adoro este filme!
Construí uma cama Stuva da IKEA, à escala 1:6, em contraplacado, com secretária e módulo de gavetas, que está agora em processo de pintura. Fiquei cheia de dores na mão direita, mas já estou quase boa. Preciso de uma serra de mesa (e de um atelier) para as miniaturas, tão cedo não posso voltar a fazer uma proeza destas, as minhas mãos são demasiado preciosas!
Também estou a preparar um projecto, mas que só revelo se der certo. Para já, segredo dos deuses! Mas desejem-me sorte!

Na rua, apesar de a maioria das lojas ainda estarem fechadas, as pessoas comportam-se como num dia normal. Com máscaras. Algumas. Mal colocadas. Aqui a secção hoje cheirava a desinfectante, não a cloro, mas tipo desinfectante hospitalar. O tempo é que parece também estar pó calyptico: está frio e chuva, muito anormais para fim de Abril. Só espero que para a semana, com o aparente levantamento de algumas restrições, o correio passe a estar aberto o dia inteiro. Hoje esperei cerca de meia hora, com direito a discussão por causa de um toque de espelhos de carro, para entretenimento da bicha para o correio, e, enquanto esperava, a fila quadruplicou!

24 abril 2020

Secção Almada - Semanas #5 e #6




Quer queiram quer não, a partir de dia dois vou voltar a andar de transportes

Estou farta de ir para o trabalho de carro, embora agora só vá alguns dias por semana e o programa da Antena 2 que esteja a dar seja muito interessante. Chama-se "Um shot de liberdade" e apesar de a intro ser assustadora, mesmo para rádio, coloca em confronto actores, dançarinos e outro pessoal curador das artes. Eles falam uns com os outros e dizem mal uns dos outros e é muito divertido. É uma espécie de Fátima Lopes para eruditos.

Enfim, vou voltar a andar de transportes. Tenho lido em casa, tento ler um bocadinho todos os fins do dia, mas isso significa que só avanço umas cinquenta páginas por dia (dependendo do livro) e por isso ainda só li metade de um livro e metade do outro. Isto não faz um livro inteiro, o que me desespera. Apesar de nunca mais ter pegado na máquina de costura decidi que vou fazer uma máscara para andar nos transportes. Depois comprarei uma viseira fashion.

Essa máscara vou fazê-la com um tecido lindíssimo que ali tenho só um resto. E o melhor é que vai ser um em dois (ou dois em um?) porque o tecido é reversível. Aí parece que tenho duas máscaras.

Terminei Saiki Kusuo no Psi Nan, que não foi tão engraçado como preconizava, e vi os dois filmes de Kyokai no Kanata. Estes filmes provaram que o anime vinga melhor quando não se focam em personagens, em narrativa, em nada: só precisam de ir em modo full-anime no último arco e ter lesmas bolhosas de negritude malvada a possuir toda a gente através de dendrites cor de rosa. Depois explodir. Temos visto muitos filmes dos anos 80. "Greetings", aprendi com o Starman. Terminámos, a ferros, His Dark Materials. Está menos fixe que o livro, mas não se pode pedir demasiado. E começamos a nova season de What we do in the shadows, que continua hilariante.

No outro dia tentei ler as cartas Sakura que mandei vir do Wish com uma amiga. É preciso alguma imaginação para perceber o que as cartas querem significar. É preciso imaginação para tudo.

Tento escrever um bocadinho todos os dias. Hoje escrevi a minha Crónica do Pó Calypso. Tenho escrito umas histórias com demos só para relaxar. Cada vez gosto mais de demos. É mesmo preciso imaginação para tudo.

22 abril 2020

Secção Alameda/Areeiro - Semana #6


Aqui em casa é tudo ao ralenti

Após estas 5 semanas, tratei de mais um pendente não urgente: Há cerca de um ano ofereceram-me uma impressora/scanner praticamente nova, da EPSON. A antiga dona não percebe nada do assunto e nem me sabia dizer em que condições estava a bicha, sóque não a usava. Como não tenho grande necessidade de imprimir coisas no dia-a-dia, e sabia que ia perder umas horas a instalá-la no PC antigo (e perdi), que é onde tenho os programas gráficos que lhe poderão dar mais uso, não me meti a instalá-la. Foi desta! Tive de ir buscar as drivers, etc., o plug & play do Vista desactualizado ainda funciona pior agora, mas depois de algumas voltas lá a instalei e está a funcionar! É daquelas EPSON Stylus com as cores em tinteiros individuais, I'm not worthy! Acho que aquela placa de contraplacado a pedir-me para fazer um beliche (da IKEA) para as moças, vai finalmente ser usada! (...) Já está quase toda cortada, parcialmente construída, hoje comprei mini dobradiças e lixa e para a semana vou buscar tinta acrílica branca (não, não tinha) à Varela, que reabriu esta semana. E também acho que a Arashi vai finalmente ter a sua Strato (vermelha, claro!), a Oriana mais livros, embalagens de comida, revistas, enfim, miniaturas para as moças.

Eu bem que estava a estranhar a falta de manifestações do vizinho das obras! Enquanto estava às voltas com a instalação da impressora, lá tive uma sessão de porta aberta (o meu quarto, onde está o escritório, é mais perto da porta da rua), com direito a música, que felizmente eram êxitos dos anos 80, e a rebarbadora! Vá lá que não foi muito tempo e não foi às 8h da manhã, mas tinha de ser...

The Mod Child
Falando em moças, acrescentei mais uma personagem à família Mod Star Wars, o/a The Mod Child. Tinha cá os materiais todos (veludo verde seco, camurça falsa cor de camelo, pêlo de carneiro falso) e nenhuma peça é muito complexa. Adoro o resultado! Tenho andado cá a magicar como poderei juntar todos numa espécie de galeria. Para já só na página do feicebuque, que ainda não actualizei.

Foi também precisa uma quarentena para finalmente cozinhar favas! Favas e morangos são uma espécie de tradição nos meus anos, que nem sempre cumpro. Aliás, as melhores favas são as da mãezinha e nos últimos anos temos almoçado comida feita por outros. Este ano, mal percebi que ia pela primeira vez na vida comemorar os meus anos sozinha, os planos foram delineados: iria fazer o bolo mais guloso que sei, cheio de chocolate para as endorfinas, os Bloomin' Brilliant Brownies do Jamie Oliver e, tendo encontrado favas congeladas na minha visita ao Lidl, fazer favinhas guisadas pela primeira vez. Usei o meu vestido de avozinha novo, os meus sapatinhos que o carteiro deixou na tasca da esquina, em vez de me tocar à porta (a propósito, hoje chegou a resposta dos CTT: "o objecto em referência foi depositado no RPD-Receptáculo Postal Domiciliário em (...) na morada que nele constava" - no comments), e vi filmes. Revi o High-Rise, continua um novo favorito, e o Great Gatsby de 1974. O Baz Luhrman nunca devia ter feito a adaptação dele, não vale nada ao pé desta adaptação, muito mais fiel ao livro e magistralmente realizada. Também revi dois Keanus clássicos: Point Break e The Matrix e terminei Star Trek: Picard (ainda não bloguei sobre a série). Agora comecei a fabulosa Years and Years, do meu herói Russel T Davies. Como o WiFi não chega à casa de banho, em geral tenho lá sempre algo leve para ler, banda desenhada, revistas, etc. coisas que possam ser interrompidas após poucas páginas. Agora terminei um livrinho delicioso que comprei em Bristol. Originalmente publicado em 1968, a minha edição é de 2013, o Gear Guide (ISBN 978-1-90840-256-1) é um pequeno guia ilustrado das lojas de roupa da Swinging London dos anos 60. Uma viagem no tempo. O próximo será mais um volume da minha colecçãozinha de Diabolik, BD italiana.

A ronda semanal foi sem nada de notório, há muito mais gente na rua, as pessoas não sabem colocar as máscaras e continuam a não respeitar o distanciamento social. A minha máscara de tubarão fez sucesso entre as meninas do Minipreço, que têm sido as mais humanas e disponíveis de todos os estabelecimentos que tenho visitado. Mais algumas lojas reabriram, como a Varela.
 A minha mãe ofereceu-me um outro bolo de chocolate apudinzado, delicioso!

15 abril 2020

Seccção Alameda/Areeiro - Semana #5


Foi preciso uma quarentena para voltar a ver Sailor Moon Crystal (e anime)

Acabei de ver um "coronaoke", do Robbie Williams, no instagram, que me pôs muito bem disposta! Raisparta que o homem canta que se farta! E tem bom gosto musical. Não tenho visto lives, parecem ser todos ao mesmo tempo e não há grande pachorra. Vi este porque carreguei no link sem querer e foi um belo acaso!

Pois, semana #5... já estamos nisto há mais de um mês? Sinceramente nem parece, mas já dou por mim a pensar que nem tão cedo estamos safos. Mesmo que Portugal, que parece estar a portar-se bem, esteja com isto controlado em, digamos, 2 meses, nada garante que os outros países estejam. Portanto tudo o que dependa de deslocações ao estrangeiro, festivais, espectáculos, deslocações a trabalho em geral, só mesmo para o ano ou quando houver vacina - que também só deve ser para o ano, pelo menos para a população em geral. Por um lado até sinto um certo alívio por, por razões completamente alheias ao bicho, ter decidido que este ano não iria na minha costumeira viagem no início de Outubro ao Reino Unido (desta vez seria Sheffield, com passagem pela minha querida Manchester - I <3 MCR), à BlytheCon UK. Tenho sérias dúvidas que, do modo como as coisas estão a correr no RU, que em Outubro já seja seguro ir lá por lazer. E ao menos não perdi o dinheiro da banca e muito provavelmente nem teria para a viagem, pois o meu trabalho, que em geral me paga o voo, foi adiado. Nada de viagens em 2020 :'(

Esta semana fiz uma máscara de tubarão, porque sim, porque queria ter uma que fosse divertida. Logo vejo se a vou usar. A escolhida paraa ronda foi a vermelha às bolinhas.
Também tive uma pequena epifania de costura. Há 4 anos, com a Miss Mod Vader, dei início a uma série de versões mod anos 60 de personagens de Star Wars, para Blythe. Tudo começou com querer levar sempre um Vader à ComicCon, onde acabei por ir só duas vezes, e, inspirando-me na figurinista Costumer's Closet (pelo menos acho que foi ela), que fez uma versão mod do Vader para o Costumer's College, e fiz a minha versão. No ano seguinte, a tempo do Sci-Fi Lx, tive uma epifania e criei um Mod Imperial Guard, o meu fato preferido de todos os figurinos de Star Wars e cosplay de sonho, que resultou ainda melhor. Tinha aberto as portas... Entretanto fiz o Mod C3-P0, um Rebel Mod Pilot, e tenho em curso os outros droids (Mod R2-D2, Mod BB-8 e Mod D-0), o Chewbacca e chego à epifania número 2, que devia andar a cozinhar na minha cabeça há uma semana: ou seja, Mod Child, ou Baby Yoda, de The Mandalorian. Tinha os materiais todos, já está quase acabado e a ficar giríssimo! Quando as lojas reabrirem, tenho de arranjar umas collants daquele verde, pois só tenho verde alface.
Também estou a tratar de umas encomendas para as Blythes, por isso tive de madrugar para fazer a ronda de supermercado da semana, para ir por uma no correio.

Parece que as pessoas ainda não compreenderam que isto não são umas férias da Páscoa prolongadas! Hoje vi o dobro das pessoas e o dobro dos carros na rua, estavam umas 6 ou 7 pessoas à minha frente nos correios, enquanto têm estado no máximo umas 2 ou 3 das outras vezes, vi imensas ambulâncias na direcção das Olaias, algumas lojas, até agora fechadas, reabriram e ouvi um avião passar esta manhã! Apesar da crise de saúde pública que estamos a viver, tenho ouvido e visto muito poucas ambulâncias, menos que o habitual. Nas minhas rondas de supermercado, tenho atavessado sempre a Almirante Reis, que é uma espécie de corredor de ambulâncias, daí ter estranhado ter visto pelo menos 3 a passar em menos de 10 minutos. As lojas que reabriram eram de comida, a charcutaria Diplomata e a Empadaria Alentejana, ao lado. Sim, marcharam umas empadinhas deliciosas!
Dilema da semana: pessoa A tem um passeio com 4-5 m de largura e cruza-se com pessoa B, parada na fila do supermercado, cumprindo a devida distancia social e ocupando a beira do passeio, deixando 30 a 50 cm da berma livres. Porque é que a pessoa A não passa pelos 4,5 m que tem ao seu dispor e resolve passar pelos 50 cm à beira do asfalto?
E sim, a tasca da esquina deve ter mel, para além da cerveja, cada vez vejo mais gente a tascar à sua porta. Aqui os passeios só têm uns 2,5 m de largura...

Finalmente consegui arranjar o meu adorado sabão azul e branco, se não fosse o risco da embalagem estar viral, até lhe tinha dado beijinhos, mesmo através da máscara! Não procurei álcool, mas também não preciso. A propósito de álcool, o Continente, para além de ter reaberto as escadas rolantes, deixou de ter o gel desinfectante à entrada, porquê? O Minipreço e o Auchan tinham. Finalmente arranjei pão que costumo comprar, de Mafra e também já tenho os ingredientes todos para o bolinho de anos :9~

Já terminei Chernobyl, já só me faltava uma semana e comecei a ver Star Trek: Picard. Estou a gostar, embora ache que o tom é bastante diferente dos Star Treks anteriores, lembra mais Caprica.
Entretanto, adicionar Sailor Moon Crystal às sessões de PC na TV foi boa ideia. Finalmente vi o arco da Black Moon até ao fim e estou a gostar imenso do arco Death Busters/Witches 5! Quando deixo de ver uma série, em geral é porque apareceu trabalho e deixei de ter disponibilidade para continuar a vê-la. Quando volto a ter disponibilidade, acabo muitas vezes por começar outra que me esteja a entusiasmar mais ver no momento e, se por acaso tenho de fazer outra pausa, lá fica mais uma pendurada. É um problema que tenho com o anime, as séries serem muitas vezes compridas, com mais que 12/13 episódios. Uma das razões porque talvez nunca venha a ver One Piece até ao fim, apesar de gostar bastante.

14 abril 2020

Secção Cascais - Semana 3#




Um dos aparentes paradoxos destes tempos é que, uma vez decretada a quarentena, tenho andado a fazer mais exercício ao ar livre. Apesar da confusão psicológica da meteorologia (capaz de alternar períodos chuvosos com o mais soalheiro dos dias), a liberdade concedida pelas autoridades à realização de "passeios higiénicos" tem feito muita gente descobrir os encantos da caminhada e do jogging - ou, no caso de criaturas mortalmente sedentárias como eu, uma versão leve e alternada destes dois exercícios. Sem querer parecer um vendedor de kits de relaxamento Zen, creio que passear pelo meu bairro é uma das actividades mais relaxantes que conheço - há sempre um canto, um caminho, uma travessa ou uma rua que não conhecíamos pronta a ser explorada pela primeira vez, mesmo que já vivamos no mesmo sítio há uma década. Descobrir estes espaços (e imaginar as histórias que nelas se poderiam passar) é sempre fascinante; e há, depois, as pequenas mudanças que vamos notando na fisionomia dos quarteirões ao longo dos tempos: casas habitadas que nos lembramos de ter visto ainda em forma de 'esqueleto', uma ou outra nova construção onde antes só existia mato deixado ao abandono, novos negócios em lojas que me habituei a ver vazias (será que vão sobreviver a esta crise?), os rostos de vizinhos cujo nome não consigo sequer adivinhar. Para quem não tiver uma paixão desmesurada pelo exercício físico, fazer estes passeios com um bom podcast a tocar nos auriculares do telemóvel é um bom remédio para tornar a actividade mais agradável - e para exercitar a massa cerebral ao mesmo tempo que a sua congénere muscular apresenta serviço.

Recentemente, num dos percursos que costumo utilizar, encontrei um quadro abandonado ao pé de um caixote do lixo - não posto dentro do contentor (acção que, gostaria de acreditar, deverá ter causado algum pudor ao proprietário da obra), mas descartado ao seu lado, como que oferecido a quem o arrematar primeiro, seja essa pessoa um transeunte que ache o quadro interessante ou o responsável pela recolha do lixo que não tenha problemas em misturar uma peça de arte com caixas de iogurte, cascas de banana a restantes detritos humanos. A pintura em si pode não ser nada de genial, mas a imagem que propiciou pareceu-me uma metáfora adequada para o modo como as artes estão a ser tratadas neste período de quarentena em Portugal: boa para oferecer ou para desertar.

Noutro passeio, em dia menos ameno, uma senhora tentou vender-me um "visor protector" do rosto por seis euros. Nada como uma tragédia para aguçar o engenho dos oportunistas do costume - e esta descarada proposta de negócio não é nada comparada com as grandes negociatas que aí virão.

Em casa, vêem-se filmes e séries a gosto. Apesar de ter saído a notícia de que os governos europeus tinham solicitado às empresas de streaming que reduzissem a resolução dos seus vídeos para que as redes de comunicação não ficassem congestionadas numa altura em que são mais necessárias do que nunca para reportar situações de emergência, a verdade é que só numa ocasião reparei numa queda abrupta da qualidade de imagem, e mesmo aí foi só um soluço que durou apenas umas horas. De resto, o streaming tem sido feito em Full-HD e recomenda-se. Na Netflix, senti que a "Casa de Papel" pode ter tido o seu momento de "jump the shark" nesta quarta temporada, já que o charme das personagens e a construção precisa da narrativa não parecem conseguir disfarçar o acumular de situações cada vez mais absurdas e inverosímeis. É divertido, como sempre foi, mas já não deslumbra como noutros tempos. Na RTPPlay, noto muito positivamente o modo como a plataforma tem vindo a assegurar o streaming gratuito e em alta qualidade das suas produções originais - estamos longe dos tempos em que os episódios das séries eram disponibilizados na plataforma numa espécie de rip SD manhoso captado a partir da transmissão televisiva original. Nestas semanas, vi os 9 capítulos do "Sul" realizados pelo Ivo M. Ferreira e conto seguir para o "Sara" de Marco Martins e para o novíssimo "A Espia". Haja vontade e dinheiro para arriscar em novas e arrojadas séries no período pós-calypso.

Por fim, um filme que vale a pena reter: o discreto e tocante "Leave no Trace"de Debra Granik, disponível para streaming na Netflix com o título "Fora de Radar". Mark Kermode, crítico de cinema inglês e co-autor de um excelente programa de rádio/podcast dedicado à sétima arte ("Kermode & Mayo's Film Review"), considerou-o o melhor filme de 2018 sem qualquer tipo de reservas, e dá para perceber o entusiasmo: trata-se de um forte retrato de uma relação entre um pai e uma filha que se auto-colocam à margem da sociedade. Contar mais seria estragar o prazer da descoberta dos 108 minutos que compõem o filme. Vão por mim - merece plenamente o vosso tempo e atenção.

09 abril 2020

Secção Almada - Semana #3 e #4




Estranha forma de acordar, que é estar pronto para dormir

Durante estas duas semanas, os dias têm sido sempre os mesmos. Acordar, trabalhar, café, ir às compras, trabalhos diversos. Pelo menos durante os dias em que a contenção me indica que não devo trabalhar consigo colocar as horas de sono em dia. Tenho sonhado muito, com coisas catastróficas.

A autoestrada está mais vazia do que o normal. Agora na Páscoa devo evitá-la, para não ser parada pela polícia, embora a minha cédula me autorize a circular normalmente. As estradas, no geral, mais vazias. Toda a gente cada vez mais aselha no trânsito, andando lentamente. Têm tempo. Todos têm tempo agora.

Juntei-me a alguns grupos de jogos e literatura para ver se falo com pessoas. Na rua, tudo normal só que com máscaras. Todos falam, mesmo com a distância de segurança, parece um filme do Clint Eastwood em que ninguém sabe quem vai sacar a pistola primeiro.

Terminei os animes sazonais e vou entretanto começar outros animes sazonais. Vi o filme do Detective Conan, Requiem for a Detective, que é tipo a primária só que para detectives. Vi Birds of Prey, que está bem engraçado, e tentámos recriar a sandes de ovo da Harley Quinn em casa. Comi tanto que arrotei sandes de ovo durante dois dias. Vimos Red Dragon, Les Misérables (o novo filme da chungaria francesa, não o clássico), Gremlins e Gremlins 2. Agora acabo a primeira season de Saiki Kusuo no Psi Nan, que é suposto ser uma comédia mas não tem assim tanta graça.

Supermercados ok. Na Auchan reunimos ingredientes suficientes para tentar recriar a salada mágica do Vitaminas. Hoje conseguimos sacar uma lasanha em promoção. Somos os mestres da promoção.

08 abril 2020

Secção Alameda/Areeiro - Semana #4

O portal para a outra freguesia


Não gosto de telefones!

Estou a começar a achar que a minha quarentena tem 3 sabores: picante, alhado (ou ambos) e doce. Estranhamente nem tenho dado assim tanto nos doces como esperava. Mas pão, queijo, leite e chá não podem faltar!

Já terminei The Mandalorian, que delícia! Adorei! Agora, indo contra os conselhos da minha amiga Tabby, estou a acabar de ver Chernobyl. Tinha de ver. Apesar de Portugal estar longe e a nuvem de radioactividade supostamente não ter passado os Pirinéus, lembro-me de acompanhar o acidente com atenção na altura e de ficar muito impressionada. Falando em catástrofes, mais ou menos na mesma época de Chernobyl, o vaivém espacial Challenger explodiu no ar durante o lançamento, e lembro-me de pensar como eram bonitas as imagens do acontecido. Desde então, sempre que algo igualmente impressionante acontece, volto a reparar que as imagens, embora trágicas, têm sempre uma beleza insólita, que não consigo deixar de ver. Durante esta pandemia, são as fotografias das cidades vazias, onde só faltam as plantas invasoras para serem o cenário de um livro de J.G. Ballard, um dos meus escritores de ficção científica preferidos, que tem andado, por razões óbvias, muito presente na minha cabeça.
Também resolvi incluir pelo menos 1 episódio de um anime na minha rotina Pó Calypsica, comecei por finalmente terminar de ver Sailormoon Crystal, faltam-me cerca de 10 episódios.

Eu sei que temos de estar presentes de alguma forma para a família e etc., mas detesto estar ao telefone e os telefonemas diários aborrecem-me. Esta é uma das muitas razões porque eu dificilmente me aguentaria mais que uns dias num emprego num call center. Deve ser a primeira coisa a atrofiar-me neste Pó Calypso.

Esta semana resolvi aventurar-me à freguesia vizinha para ir às compras, ao Lidl. Costumo ir ao Lidl pelo menos uma vez por mês, pois tem uma série de produtos que gosto, como espargos, os secos, o cappucino e o pão, entre outros.
A tasca da esquina estava com o movimento do costume: uns 3 ou 4 cá fora, num passeio que tem pouco mais de 1,5m de largura, não havia barreira à porta e pareceu-me que estavam mais uns quantos lá dentro... Giro giro foi quando passou um carro da polícia, que parou à porta da tasca, e pelo menos 2 das pessoas que estavam cá fora fugiram como as ciganas na Guerra Junqueiro nos anos 80! Ri-me tanto! Quando voltei ainda estavam mais pessoas cá fora... Isso explica os meus vizinhos do lado não pararem com o entra-e-sai diário, a tasca continua como de costume.
Pouco antes tive uma pequeno incidente à porta da loja de informática, onde fui para trocar o cabo HDMi (ninguém precisa de um cabo HDMi normal<->mini?). Quando cheguei, estava um senhor a ser atendido à porta, portanto fiquei à espera na distância de segurança. Eis que aparece um senhor, com a máscara mal colocada, a penca toda de fora, a cirandar à porta da loja, numa tentativa muito pouco velada de me passar à frente. O senhor que estava a ser atendido pediu-lhe que respeitasse a distância de segurança e o homem afastou-se a contragosto. Aproveitei para dizer que também estava à espera para ser atendida. Resolveu implicar comigo, que era obrigada a usar máscara (está um letreiro à porta a explicar que só entram pessoas com máscara), ao que respondi que não ia entrar na loja, apesar de ter uma máscara, caso fosse necessário (que aliás usei no Lidl e no comboio). Ainda resmungou, mas acabou por dar meia volta e foi-se embora, para entrar no prédio em frente! :D
Conclusão, apesar da clara quebra de movimento na rua e de haver menos carros, muitas das pessoas com que me cruzo não respeitam a distância de segurança e por vezes até são mal educadas.

Tanta obra pela cidade fora! No meu percurso do Alto do Pina à estação de Entrecampos, passei por pelo menos 3 prédios em obras de remodelação, mais um punhado de obras mais pequenas. Não percebo onde encaixam as obras nos serviços mínimos, sobretudo quando não vejo nenhum dos trabalhadores com equipamento sanitário, para além dos capacetes. Não me parece que quarentena signifique que se pode aproveitar para fazer obras, do mesmo modo que não é estar de férias.
Para compensar, entre o ocasional cheiro a lixivia, senti o petrichor no Jardim Fernando Pessa (onde também havia obras!).

Como estava mesmo muito carregada, decidi voltar de comboio (sempre armada com o meu fiel lápis com borracha na ponta para carregar nos botões), a carruagem vinha va-zi-a, foi um descanso. Desta vez foi bom verificar que as drogarias e casas de ferragens estão abertas, nestas alturas há uma certa tendência para as coisas avariarem, é bom saber isso. Ah! E fiz umas máscaras, cosidas à mão, porque a máquina avariou, com chita de flores, vermelha com bolinhas brancas e algodão branco com malmequeres azuis escuros. Se temos de usar máscara, ao menos que seja com estilo! Vou por o link para os moldes na coluna aqui ao lado.

06 abril 2020

Secção Cascais - Semanas 1# e 2#




Fazer anos em pleno período de quarentena é uma daquelas experiências que, não sendo o acontecimento mais doloroso do mundo, não se recomenda a ninguém. Mas, perante as adversidades causadas por um vírus impiedoso, não resta grande hipótese que não seja a de aguçar o engenho para contornar (ou, pelo menos, suavizar) a negritude desta insólita situação. Assim sendo, um pequeno bolo de bolacha caçado durante a primeira incursão a um supermercado desde a oficialização da pandemia passa a ser o bolo de aniversário possível. Sem velas reveladoras da idade nem cânticos de “parabéns a você”, o bolo pode não ter a pompa e circunstância de um brigadeiro gigante mas, ao menos, é saboroso - e, nestes dias cinzentos que correm, a pequena alegria de um bolo saboroso é um bálsamo imprescindível para a nossa sanidade mental.


Desde o arranque desta maldita situação em que todos estamos envolvidos, fui três vezes ao supermercado para fazer as compras ditas essenciais. O primeiro embate com as filas de prateleiras quase completamente esvaziadas é desolador, o açambarcamento deixa-nos com uma selecção limitada e insuficiente e a apreensão é visível nos rostos e expressões corporais de todas as pessoas que caminham pelos corredores. Na segunda semana, porém, as novas visitas correram muito melhor: com as raras excepções de alguns itens, as prateleiras já não se encontravam delapidadas e as pessoas, sem perderem o receio e cautela que são completamente naturais numa altura destas, comportavam-se, geralmente, de forma exemplar, seguindo as recomendações de distanciamento social à risca - e, sobretudo, sem cair em pequenas implicâncias e tricas. Há, apesar de tudo, mais civismo do que os cínicos gostariam de admitir.


Entretanto, eu e o meu irmão fizemos uma espécie de passeio inadvertido à beira-mar quando, ao deslocarmo-nos de carro pela Marginal com o objectivo de ir buscar uma pizza à Pizza Hut da Parede, acabámos presos num longo engarrafamento que nos atrasou a chegada em cerca de meia-hora. Razão para a enorme aglomeração de carros: operação STOP com vista a despistar quem estava a sair de casa pelas razões consideradas aceitáveis pelas autoridades das pessoas que achavam que a maior ameaça à saúde pública desde a gripe espanhola do século passado não passa de uma picuinhice. Apanhámos um pequeno raspanete do agente da polícia que nos mandou parar por sermos duas pessoas num carro a ir buscar uma pizza quando uma é suficiente. Porém, lá nos deixou passar e seguimos com a lição aprendida: evitar a Marginal nestes dias de quarentena, mesmo que a vista seja magnífica. Quanto à pizza, estava morna mas tremendamente comestível.


No Twitter, um amigo escreve que os dias começam e acabam num instante, mas demoram a passar - um paradoxo doloroso que tenho sentido na pele. Uma pessoa parece que passa a viver para preparar as refeições do dia, lavar a loiça, ver os noticiários monotemáticos e adormecer. Fala-se na importância da manutenção de rotinas, mas a verdade é que a pandemia impõe as suas próprias. Felizmente, a arte e o entretenimento existem para nos salvar do tédio e da dor causada pela lenta passagem do tempo. Para não cair num name dropping longo e fastidioso, fica aqui uma única e sentida recomendação: um anime absolutamente brilhante dirigido por Masaaki Yuaasa (realizador do maravilhoso “Devilman Crybaby”) que dá pelo nome de “Keep Your Hands Off Eizouken!” e que está disponível para streaming gratuito no Crunchyroll. Trata-se de uma série sobre três miúdas japonesas muito peculiares que formam um clube de animação na sua escola secundária e descobrem, aos poucos, as dificuldades e alegrias que acompanham a criação de uma curta-metragem animada. Um verdadeiro hino à imaginação e ao processo criativo, sem subplots românticos ou os típicos clichês que pululam em boa parte da produção contemporânea de anime, é daqueles títulos que nos fazem ter vontade de derrotar a inércia e começar a criar. Haverá algo mais apropriado para estes estranhos tempos que vivemos?  


01 abril 2020

Secção Alameda/Areeiro - Semana #3


"É só para clientes habituais."
Nestes tempos de quarentena Pó Calypsica, não me custa nada ficar em casa, o que custa é sair. Onde andam os dispensadores de comida do Star Trek?? Quero um, JÁ! Mas o ar fresco na tromba até que sabe bem. Na saída desta semana chovia. A potes. Finalmente vi a Alameda va-zi-a, os únicos transeuntes eram as pessoas que, como eu, faziam fila, distanciada, para o correio. Foi preciso chover e vir uma vaga de frio...

Ao entrar no Minipreço, tive a sensação que o segurança me ia dizer: "É só para clientes habituais.", qual segurança de uma discoteca no Bairro Alto, nos anos 90. Mas afinal só disse: "Pode entrar.". No Continente, voltei a pensar nisso. Será que os seguranças de supermercado são seguranças de discoteca frustrados?

As prateleiras nos supermercados já estão quase normais, álcool e sabão azul e branco ainda nem em sonhos, pão decente e flocos de marca branca dos mais baratos, o mesmo. Já estou a começar a coleccionar os ingredientes para o meu bolo de anos: já tenho a farinha, a manteiga, os frutos secos. Ainda falta o chocolate 70% e tenho de ir consultar a receita para ver se não falta mais nada.

Agora parece que há uma hora de ponta de vídeos live pelas internetes! Alguém arranje um programador para encaixar cada vídeo num horário diferente, por favor! Ou então os emissores que deixem os respectivos vídeos disponíveis para os vermos depois, qual box de TV.

Já acabei de ver Good Omens e estou a ver The Mandalorian, "now in a big screen near you!", graças ao cabo HDMi. QUERO aquela banda sonora! Estou a adorar! Pus os vestidinhos para Blythe, Stripey Emmapeelers, à venda no Etsy e vendi dois, já seguiram, e tive mais duas encomendas! Iée! Já só tenho 1 vestido e o resto de outro para terminar e depois passo às encomendas. Até porque os CTT agora só estão abertos de manhã e de manhã eu não existo... x_x

Estou a pensar em aventurar-me ao Lidl para a semana.