06 junho 2020

Secção Alameda/Areeiro - Semana #12


Ao chegar à 12ª semana e a ver a vida nas ruas a voltar praticamente ao normal, pergunto-me se valerá a pena continuar estas crónicas. As coisas podem já não parecer tão negras, mas o bixo é invisível e os casos aumentaram bastante em Lisboa. Enquanto não me sentir segura e tiver vontade e tempo, a Secção Alameda/Areeiro vai continuar.

Esta semana fui ao Aldi de Telheiras, de carro, com a mãezinha, e atravessei a fronteira de Arroios. No Aldi, como no Continente na semana passada, havia uma estranha ausência de iogurtes gregos naturais. Só havia com frutas ou açucarado em baldes. Nada de Buttermilch. A minha teoria é, até porque o atum também estava em falta no Minipreço, quando houve o assalto aos supermercados, uma, duas semanas depois esses produtos com muita procura voltaram, mas como durante a quarentena a produção deve ter diminuído, agora é que as faltas começam a notar-se.
Em Arroios, muito mais que no Areeiro chunga, nem parece que deveríamos agir com precaução e vejo muito poucas máscaras, sem ser tapa-queixos. Falando em máscaras:
TOP MÁSCARA DA SEMANA
~ máscara tipo pulseira no bíceps ~
~ híbrido entre pála e máscara, que aparentemente não protege grande coisa ~
Cá por casa tenho andado ocupada com 3 coisas: com o plano Top Secret, a acabar umas máscaras para vender e com o primeiro desafio do Blythe Runway challenge. As máscaras estão quase prontas, 3 das 6 peças do BRC estão prontas e o Top Secret será entregue em breve. Em Julho poderá ser revelado. Ah, e pela primeira vez mexi num cosplay a precisar de atenção, aproveitei um pedaço de ganga rija que me deram, para usar como entretela para o obi da minha Lum. sou capaz de acabar de embainhar a yukata a seguir. Se faço o juban e o obi-ita a seguir, logo se vê. Os materiais estão cá. A cama IKEA está pronta, mas não sei onde enfiei as dobradiças das portas do roupeiro, a Mod Amidala e Leia já estão fotografadas.

E estão a dar uma série de filmes do Jerry Lewis na FOX Movies. Sempre lhe achei piada e agora, revendo os filmes ao fim de uns bons 20 anos, percebo como eram mais bem feitos do que lhes dão crédito. Até guarda roupa por Edith Head têm. O filme Geisha Boy, ao contrário do que o título indica, não entra em nenhum dos clichés depreciativos acerca do Japão. Pelo contrário, nesse sentido, consegue ser muito superior a um Memoirs of a Geisha, pois os actores orientais são todos japoneses ou descendentes, os kimonos todos genuínos e o kitsuke perfeito. Se tivermos em conta que um foi feito pelo studio system, no auge da segregação nos EUA e da ocupação militar no Japão (é sobre isso) e o outro já neste século, por um realizador mais ou menos independente, parece-me que houve um retrocesso hollywoodesco.

O mundo parece ter se cansado do Pó Calypso, e as reacções às suas consequências começam a sentir-se. Destacam-se dois movimentos, o #pelopresenteefuturodaculturaemportugal, contra a trapalhice e falta de medidas de apoio do nosso governo em relação a um problema bem antigo e que me afecta directamente, dos intermitentes da cultura; e o #blacklivesmatter, resultante de um último acto de violência policial nos Estados Unidos, que resultou na morte injusta de George Floyd. O primeiro tem gerado alguma discussão e manifestações por parte dos meus colegas da cultura, e espero que não caia mais uma vez em saco roto. O segundo é muito complexo, obriga a uma reeducação das sociedades pan-europeias e ex-colonizadoras, cujo bullying millenial online não me parce ser eficaz. Sou 100% a favor da causa, mas acho a abordagem de barafustar até sermos ouvidos, imatura e ineficaz. Digo isto porque já agi assim e nunca me levou a lado nenhum. Seria muito bom que as massas ouvissem, raciocinassem, para além de barafustar. Veremos o que acontece daqui por diante, mas acho que as moscas apanham-se com mel e não com vinagre.

Há um ano estava a caminho do Porto.

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